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Com incentivo estatal, setor de consumo retoma expansão.

18/08/2012

Por Vivian Pereira e Juliana Schincariol

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO, 16 Ago (Reuters) - Após sofrer desaceleração generalizada nos primeiros meses do ano, o consumo no país deve acelerar no segundo semestre com as medidas de incentivo adotadas pelo governo, refletindo em vendas maiores para as empresas do setor.

Para especialistas, as medidas tomadas pelo governo desde o final de 2011 devem ganhar tração daqui em diante. Desde agosto passado, o BC já reduziu em 4,5 pontos percentuais a taxa básica de juros, para a mínima recorde de 8 por cento ao ano. Posteriormente, o governo lançou uma série de medidas para estimular o consumo e os investimentos do setor industrial.

"As medidas tendem a ser mais eficazes agora... isso vai começar a ocorrer a partir do segundo semestre", disse o sócio sênior da consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza Luiz Goes.

Mas um dado divulgado nesta quinta-feira mostrou que a recuperação pode ter começado antes do que o esperado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no varejo do país cresceram 1,5 por cento em junho ante maio, muito acima da expectativa do mercado. [ID:nL2E8JG23V]

O dado confirmou a tendência já apontada em outro relatório da Serasa Experian, divulgado na semana passada, apontando que o movimento de consumidores nas lojas do país cresceu 1,3 por cento em julho sobre o mês anterior, com o varejo recuperando-se da queda de 0,1 por cento vista em junho.
Com esse horizonte, os vários segmentos ligados a consumo fazem planos de expansão num período já sazonalmente mais movimentado, por contar com o período de vendas de Natal, que costuma elevar as vendas no varejo em entre 40 e 60 por cento na comparação com um mês comum a partir de novembro.

A Associação Brasileira de Franshising (ABF) apontou a expectativa de abertura de 42 shoppings no país este ano.

"Com a crise, muitas empresas postergaram novos shoppings, e agora teremos mais pontos comerciais", afirmou o diretor executivo da ABF, Ricardo Camargo.
Na recente temporada de divulgação de balanços trimestrais, boa parte das empresas ligadas ao consumo fizeram coro para apostar em um desempenho de vendas melhor até o final de 2012.

Um apanhado das apostas de analistas, associações e consultorias relacionadas ao consumo aponta o setor de cosméticos como um dos favoritos.
"Cosméticos é um dos setores que mais deve crescer, beneficiado por novos produtos e pelo costume das pessoas se auto-presentearem", destacou Goes, da GS&MD.

Além de inflar o faturamento das fabricantes, as vendas de desses produtos tendem a favorecer outro segmento em forte expansão, o de drogarias.

"O setor de cosméticos é importante para compor a rentabilidade do setor de drogarias, que se tornaram um canal especializado", acrescentou o professor e coordenador do núcleo de estudos e negócios de varejo da ESPM, Ricardo Pastore.

Segundo estimativa da equipe do Barclays, o Brasil deve se tornar o segundo maior mercado de cosméticos do mundo até o final deste ano, superando o Japão.
Outros segmentos que devem se destacar são os de alimentação, eletrodomésticos, móveis e materiais de construção. Os três últimos foram alvo de medidas de incentivo do governo.

Camargo, da ABF, destaca o ramo de alimentação como outro setor beneficiado, "influenciado pelo maior número de refeições fora do lar, além da especialização cada vez maior das redes".

Em contrapartida, o setor de vestuário deve seguir como um dos mais penalizados, pelo menos no curto prazo, diante de um cenário de contenção de gastos, segundo Goes.

"Vestuário é o primeiro item a ser cortado pelos consumidores endividados, que continuam se alimentando, mas sempre podem esperar para comprar roupas", afirmou.

BOM, MAS NEM TANTO

O sopro de otimismo criado com alguns indicadores mais recentes, entretanto, ainda não é generalizado. Alguns especialistas apontam que, como a atividade econômica foi fraca no segundo semestre de 2011, não vai ser difícil os próximos dados mostrarem melhora no comparativo anual.

"A base do segundo semestre de 2011 é mais fraca e isso favorece um desempenho melhor, mesmo sem grandes ajudas da economia", disse o analista Luiz Cesta, da Votorantim Corretora, em entrevista no chat Trading Brazil da Reuters.

Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar), da FIA, o repasse das reduções da Selic aos preços finais leva de oito a dez meses. Assim, ainda vai levar algum tempo para o efeito completo do estímulo ser sentido.

"As medidas tomadas não são suficientes para manter o ritmo de crescimento (das vendas)... o repasse na ponta não acontece rapidamente", disse.
(Edição de Aluísio Alves)


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