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Ainda a questão das sacolinhas

08/02/2012

Coluna Cardnews - Varejo / janeiro 2012

O acordo entre a APAS - Associação Paulista de Supermercados e a Prefeitura de São Paulo, coloca fim ao uso das sacolinhas plásticas. Elas são utilizadas como embalagens para acomodarem as compras realizadas pelos clientes e sempre foram fornecidas gratuitamente.
O motivo alegado por ambas as partes é a preservação do meio ambiente. Até aí, tudo bem, ninguém tem nada contra, muito pelo contrário, todos querem salvar o planeta dos efeitos causados pelas mais diversas formas de poluição e as sacolinhas são de fato um dos grandes vilões nessa história.
Em vários municípios, leis foram criadas e as sacolinhas foram extintas sumariamente. O mesmo aconteceria em São Paulo, não fosse a medida do Tribunal de Justiça de São Paulo, que suspendeu por tempo indeterminado a lei a lei do Prefeito Kassab aprovada pela Câmara dos Vereadores, que proibia o uso das sacolas plásticas no comércio da capital paulista.
A sustentabilidade é um dos pilares da nova era que vivemos e toda a lei que favorece esse tema é supostamente bem vinda, afinal a preocupação com o planeta está presente no dia-a-dia das pessoas e cresce também sua influência na atividade econômica.
Mas até que ponto esta não é uma lei oportunista? Entramos em um ano eleitoral e a questão ambiental sempre recebe boa acolhida por parte dos eleitores; não devemos esquecer do fenômeno Marina nas últimas eleições presidenciais.
E quanto aos supermercados? O fim do uso das sacolinhas pode significar uma redução de despesas de algo em torno de 0,5% sobre vendas:
- é muito dinheiro!
Como a atividade convive com lucros estreitos, a possível redução de despesas pode significar de fato a diferença entre lucro e prejuízo para muitas lojas.
Entretanto essa medida pode se transformar em uma bomba a estourar no colo dos supermercadistas, quando os consumidores notarem que são eles que estão pagando mais uma conta e deixando de ter um serviço, o que torna ainda mais cruel esta questão.
O oportunismo eleitoreiro aliado a possibilidade de redução imediata de despesas variáveis, configura-se em uma tentação enorme para ambos os agentes, empresários do varejo e políticos.
Mas há um terceiro elemento que não foi considerado em todo este processo e é justamente essa a nossa preocupação:
- o consumidor! Em nenhum momento procurou-se saber o que o consumidor pensa a respeito, afinal é para ele que empenhamos todos os nossos esforços. Nossos órgãos de defesa são muito mais frágeis que as demais partes envolvidas - poder legislativo e empresários.
Se quer participaram do debate, nem procuraram defender os interesses dos consumidores durante a formulação da lei ou do acordo firmado, afinal haverá uma perda no nível de serviço prestado com o fim do fornecimento das sacolinhas que servem como embalagens para acomodar as compras realizadas nos estabelecimentos varejistas.
Mas, digamos que há de fato um espírito ecológico em tal medida:
- A economia a ser gerada com o fim das sacolinhas que, como vimos não é pouca, por acaso será revertida para o bem socioambiental?
Uma das redes que conheço vai empregar mais empacotadores para auxiliar seus clientes e melhorar a operação na frente de caixa. As pessoas deverão trazer suas próprias sacolas de casa ou fazer o reaproveitamento de caixas de papelão usadas cedidas pelas lojas e isso pode tornar o atendimento mais moroso.
Mas, como podemos notar, esta é uma medida de cunho operacional que visa agilizar o atendimento, não melhorar o meio-ambiente. Mesmo assim vale o registro pois haverá um reflexo positivo com a abertura de novos postos de trabalho.
Seria bem vinda a idéia de que esse dinheiro economizado com o fim das sacolinhas viesse a ser investido na transformação de lojas convencionais em "lojas sustentáveis". Algumas grandes redes já possuem os tais formatos “verdes” e são pouco divulgados mesmo para quem está dentro da loja fazendo compras, uma perda de oportunidade.
São lojas tecnologicamente muito mais avançadas que as convencionais e merecem todos os elogios, pois trata-se de um avanço considerável. Essas unidades deveriam desde o início ter adotado outras alternativas em embalagem, mesmo que significasse a interrupção de um serviço como se pretende.
E se esse dinheiro fosse destinado a um fundo para financiar investimentos em sustentabilidade no varejo? Melhor não dar muitas idéias pois é capaz de surgir mais um imposto lá em Brasília ...
Numa era onde o consumidor está dotado de armas de informação poderosas e amplia o seu conhecimento, ignorar seu poder de discernimento é pura miopia.
Quais as possíveis reações que os consumidores esboçarão?
1) Ao utilizarem sua própria sacola retornável, podem se limitar a comprar apenas o que nela cabe;
2) Muitos poderão passar a comprar pela internet e receber tudo em casa. Vocês já notaram o tanto de embalagem que essa modalidade de venda utiliza? São caixas e mais caixas de papelão que embalam produtos, sem contar sacos plásticos especiais para os congelados;
3) Outros canais de vendas como padarias, lojas de conveniência, farmácias, podem surgir como alternativas de abastecimento para consumidores que deixarem de realizar a compra completa em um supermercado;
Enfim, listei apenas algumas possibilidades, mas um trabalho cientifico é o que se recomenda diante de uma mudança dessas proporções.
As empresas varejistas devem aproveitar o momento de mudança e capitalizar a seu favor e não contra, por isso insistimos na necessidade de incluir seus clientes, os consumidores finais e demais stakeholders nesse debate. Subestimá-los com medidas precipitadas e oportunistas pode custar caro mais adiante.
Campanhas educativas e de conscientização, como as que vem fazendo a própria APAS, devem ser incentivadas, mas pela dimensão que as coisas tomaram, o consumidor é quem vai ter que pagar a conta outra vez, `a medida em que deixará de ter um serviço, a embalagem.

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